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Conferência internacional de jornalismo investigativo é realizado na Maré

Julia Bruce

A 13ª edição da Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (COLPIN) estreou no Conjunto de Favelas da Maré no dia 9 de novembro. O primeiro dia do Congresso reuniu mais de 60 jornalistas de países como Colômbia, Chile e Argentina, no Centro de Artes da Maré (CAM), em rodas de conversa e em um circuito pelo território. A COLPIN é organizada pelo Instituto Prensa y Sociedad “Instituto Imprensa e Sociedade” - IPYS.

A atividade foi iniciada com uma conversa sobre “Como cobrir os problemas de bairros populares na América Latina”, com a coordenadora do Maré de Notícias, Jéssica Pires, o cofundador do jornal Fala Roça, Michel Silva, e o fundador da ONG e jornal comunitário Voz das Comunidades, Rene Silva. A mediação foi do repórter da TV Globo Chico Regueira. A segunda conversa, “Cobertura da mudança climática e cidade”, já teve a participação da coordenadora do eixo Direitos Urbanos e Socioambientais Shyrlei Rosendo e do articulador do eixo Maurício Dutra e a repórter Edilana Damasceno do data_labe, parceiro da Redes. A mediação foi da jornalista Cristina Serra. Na sequência, o grupo visitou o prédio central da Redes da Maré, na Nova Holanda, e o recém inaugurado Memorial de Vítimas da Violência Armada, na Praça da Paz.

Um dos destaques das conversas foi sobre como o lugar do jornalismo comunitário tem o lugar de construir, provocar, visibilizar e ampliar as questões das favelas para, assim, cobrar o processo de incidência política ao poder público. “Fazer jornalismo nas favelas é entender como a gente coloca antes da cobertura o afeto? O afeto no sentido de carinho e de respeito de como aquela pessoa quer ser representada ou vista, tanto em como vamos afetar outras pessoas com essas narrativas. O Maré de Notícias tem muito dessa metodologia da Redes da Maré, pensando na incidência política, na mobilização. É fazer um jornalismo que incida e que mobilize essas pessoas, entendendo todas as demandas que existem no território”, analisa Jéssica, que reforça sobre como a cobertura de jornais locais tem “quebrado um muro” dentro das favelas a partir desse modo de fazer jornalismo comunitário.

 

 

Da esquerda para a direita: Chico Regueira, Michel Silva, Jéssica Pires e Rene Silva. Foto: Patrick Marinho

 

Jéssica, Michel e Rene nasceram e cresceram em suas comunidades, e isso influencia integralmente suas produções do dia a dia. Eles estão sempre nesse lugar de escutar e contar sobre os direitos desses moradores, enfrentando juntamente uma série de desafios diários. “Ao mesmo tempo que somos jornalistas, somos moradores e estamos vivenciando tudo. É fazer matéria lidando com questões humanitárias a todo o tempo. E eu sempre busco resgatar a história e memória da favela da Rocinha para dentro dos processos comunicacionais do jornalismo, o tornando mais humanizado”, explica Michel.

Em relação à pauta das mudanças climáticas, a aproximação desse assunto com os moradores ainda é ausente e a forma como um tipo de linguagem ainda é muito utilizado na grande mídia, por exemplo, influencia nesses processos de comunicação. Isso reinvidica a presença cada vez mais de moradores de favelas e do jornalismo comunitário no centro desse debate. “Eu sempre me perguntei: por que dentro da favela chamamos “valão” e fora dela, chamamos “rio”? Então, essa apropriação da linguagem é muito significativa nessa questão da aproximação”, explica o tecedor Maurício.

 

Da esquerda para a direita: Cristina Serra, Edilana Damasceno, Shylei Rosendo e Maurício Dutra. Foto: Patrick Marinho

 

A Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que começou no dia 6 de novembro, também foi citada na roda de conversa e Shyrlei observa sobre as reportagens que têm saído na mídia, alertando que a favela ainda é colocada como causa de problemas ambientais. “As pessoas que moram no Rio de Janeiro não conhecem a cidade como realmente ela é. A favela é cidade e precisa ser enxergada como lugar de potência e não de carência. A mídia hegemônica não dá conta da complexidade das narrativas acerca das favelas, por exemplo, não é informado sobre o esforço coletivo, que o Estado deveria estar ali em um processo contínuo”.

 

Visita dos jornalistas ao prédio central da Redes da Maré, na Nova Holanda. Foto: Patrick Marinho

 

Foto topo: Patrick Marinho

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