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Mais um episódio de violência que atravessa a vida de mulheres nas 16 favelas da Maré

Era apenas mais uma sexta-feira, 14 de abril, e muitas atividades estavam previstas para acontecer em alguns dos projetos da Redes da Maré. Uma delas foi a apresentação dos resultados da pesquisa Violências, Corpo e Territórios sobre os efeitos da violência armada na vida de mulheres nas 16 favelas da Maré. Essa é uma investigação coordenada pelo eixo de trabalho Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça e realizado em parceria com a Universidade de Cardiff, no Reino Unido, a Universidade de Warwick, na Inglaterra, e a Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


O estudo, apresentado na rua, em frente a Casa das Mulheres da Maré (CDMM), localizada no Parque União, reuniu em torno de 60 mulheres para troca de experiências e reflexão sobre os resultados sistematizados no relatório final da pesquisa. Mas logo na primeira parte do encontro, foram ouvidos tiros que vinham de longe e logo soubemos que tinha começado na região da Baixa do Sapateiro e Parque Maré, uma operação policial. Quando os disparos foram ouvidos, imediatamente as pessoas presentes foram orientadas a entrar para o interior do prédio da Casa das Mulheres, numa perspectiva de preservar a segurança de quem estava ali.


Entre os presentes na apresentação dos resultados da pesquisa estavam no local, além de mulheres que participaram do estudo e os pesquisadores do Reino Unido e da UFRJ, equipes da Redes da Maré, diversos representantes de organizações da sociedade civil e representantes do próprio estado, como do legislativo do Estado do Rio de Janeiro, como a deputada Deputada Estadual Renata Souza, representando a Comissão de Direitos da Mulher, e a Defensora Pública Márcia Fernandes, representando o Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher (NUDEM).


No momento de tensão, houve tentativas de dar continuidade ao diálogo que estava ocorrendo, mas, o som de disparos de armas de fogo se intensificou e chegaram mais informações sobre a ação da Polícia Civil, especificamente da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas. O barulho dos tiros ficaram mais próximos e foi percebida também a presença de carros blindados no entorno do prédio da Casa das Mulheres da Maré, causando ainda mais pânico nas pessoas presentes e interrompendo totalmente as atividades.


Nesse mesmo dia, tínhamos, também, além das atividades rotineiras às sexta-feiras na Redes da Maré, uma comitiva de diferentes lugares e projetos que vieram conhecer o trabalho desenvolvido, especificamente, pelo equipamento Espaço Normal. Esse grupo ficou no meio do caminho já que foi surpreendido pelos disparos de tiro e não conseguiu chegar ao local onde o projeto acontece. A Redes da Maré vem se pronunciar oficialmente sobre esses tristes acontecimentos e mais uma vez deixar claro o nosso repúdio diante de mais uma ação desrespeitosa e inconsequente com a vida dos moradores das 16 favelas da Maré.


Alguns dos efeitos da operação policial que não são mostrados na grande mídia: duas turmas do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) cancelaram as aulas, afetando 309 alunos. O Centro Municipal de Saúde Vila do João e a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, também suspenderam o funcionamento, dentre outros.


A forma como a operação policial aconteceu viola uma série de medidas da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, conhecida como “ADPF das Favelas”, como a falta de ambulâncias no local - um morador foi ferido no pé -, o não distanciamento das unidades escolares e a não adesão às câmeras nos uniformes dos agentes. A ADPF foi um marco histórico na luta pela diminuição da letalidade em ações das polícias que aconteceram nas favelas entre 2019 e 2020. É preciso que ela seja respeitada.

 

A política de produção de mortes no Rio de Janeiro tem de acabar. Segurança é um direito constitucional de todos. Todas as vidas importam!

  

Foto: Elisângela Leite

 

Rio de Janeiro, 16 de abril de 2023

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