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TESTEMUNHOS DE DENTRO • 2

Neste 26 de abril de 2023, mais uma operação policial aconteceu, muito cedo, acordando moradores de algumas favelas da Maré. São muitos os relatos, pedidos de ajuda, denúncias e fatos narrados por moradoras e moradores que não suportam mais o desrespeito na forma como são tratados quando estão diante de agentes da segurança pública. Trazer mais um desses relatos é sempre triste, mas eles são necessários para o registro e a memória das violações que não deveriam ser toleradas pela nossa sociedade.

Já não era a primeira vez que a equipe da Redes da Maré, de plantão, recebia o relato de entrada de policiais sem permissão a certos estabelecimentos comerciais. Um comerciante antigo na região veio pedir orientações sobre o que poderia fazer, uma vez que a polícia tinha invadido a sua loja.

Era cedo ainda e o seu comércio estava fechado. Ele sequer tinha chegado para abrir a porta quando esta foi arrombada. Ainda se arrumando para sair de casa, tomando o seu café, ouvindo as notícias na televisão e celular, já anunciavam que estava ocorrendo uma operação policial em algumas das favelas da Maré. Tal fato sempre deixa todos que moram em favelas com muita angústia.

Esse morador, muito nervoso, nos contou como se sentia ao acordar e ver as notícias, a correria e gritos de quem passava em frente da sua casa. Muitas cenas se repetiam na sua cabeça num dia como o que se anunciava: barulho estrondoso de tiros que acordam as pessoas no susto, medo de sair de casa para o trabalho, crianças e adolescentes que não podem ir para a escola, gritos de vizinhos que muitas vezes ficam acuados em suas casas, helicóptero que sobrevoa atirando na direção das casas, corpos mortos nas ruas e pessoas feridas.

Mas, logo chega uma mensagem no seu celular de um vizinho onde fica o seu comércio, avisando que a porta do mesmo tinha sido arrombada pela polícia. Ele, de forma precavida, havia deixado a porta do bar encostada para não ter mais prejuízos. Na realidade, a polícia já havia invadido o seu bar em outras três operações policiais. Foi quando quebraram a sua porta e ele teve de pagar pelo conserto em torno de R$700,00 ( setecentos reais).

Na invasão ao seu comércio hoje, às 9h, a porta de ferro foi novamente quebrada, houve consumo de refrigerantes e alguns maços de cigarros furtados. O morador contou que não saberia quantificar o que foi levado do seu comércio. Falou, também, do seu receio de ameaças e possíveis criminalizações. Ficou com medo de chegar no seu estabelecimento e encontrar a polícia e isso o revoltar a ponto de acabar sofrendo violência por parte de quem deveria proteger os moradores. Estava nervoso e perguntava a todo momento: quando poderia viver e trabalhar na favela sendo respeitado pela polícia?

 

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2023

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