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Fernanda Viana

Equilibrando lutas


Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.

Fernanda Viana (40), mareense desde a barriga da mãe, começou na Redes da Maré em 2002 como aluna do Curso Pré-Vestibular, trazida pelo “sonho sempre pulsante” de fazer faculdade. Ao mesmo tempo que deixara esse sonho adormecido, os desafios e lutas como mulher, profissional e mãe de três filhos também foram as molas que a ajudaram a conquistá-lo. Esses obstáculos e inquietações a fizeram criar alternativas em casa com os cuidados de três filhos, Arthur, Fernanda e Fernando, e se encontrar na faculdade de Serviço Social. A rede de apoio e de cuidados que ela teve em casa e a ajuda de vizinhos fez toda a diferença. Fernanda nos brinda com suas visões, hoje atuando no nosso eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça.


Assim que a pandemia se instaurou no Rio de Janeiro, Fernandinha sentiu que quando o vírus chegasse na Maré, ia dar de cara com a ausência de políticas públicas para as demandas do território. Então, não teve dúvidas: chegou junto, logo ali em março, para somar na campanha ‘Maré diz NÃO ao Coronavírus’. Passou por diversas frentes: atendimento ao público no Centro de Artes da Maré, atendimento do Maré de Direitos, distribuição e organização da logística das cestas básicas e kits de higiene, fez visitas domiciliares, colaborou na organização do banco de dados e, por fim, em ações de saúde na Maré.

A tecedora achou positiva e de muita sensibilidade a iniciativa da Redes da Maré de atuar, desde o início da pandemia, para amenizar os danos da insegurança alimentar. Mesmo tendo nascido e vivido toda a vida na Maré, esse tempo de trabalho com a campanha a fez perceber que esse momento evidenciou muitas mazelas que existem aqui e a importância desse trabalho para tantas pessoas. “A minha vida toda foi permeada por uma rede de cuidados, que me garantiu, inclusive, a sobrevivência em muitos momentos. Ter essa rede de apoio é muito importante para o favelado, mas e quando esta também está fragilizada, quem te assiste? Infelizmente não foi o Estado, que era quem deveria ter feito. Fomos nós mesmos, que fizemos com muita boa vontade”, comentou.

Para Fernandinha, foi uma surpresa boa ser convidada para assumir a coordenação do polo de testagem do Conexão Saúde - de Olho na Covid, projeto realizado em parceria com outras organizações. Mas foi seu empenho e vontade de fazer e fortalecer seu caminho que a fez conquistar esse lugar. Na Redes da Maré e em casa. Ela conta com orgulho que agora é a outra Fernandinha, sua filha de 12 anos, que chama a sua atenção para muitas questões sociais. Arthur Viana, seu filho mais velho, também está nesse caminho e integra o eixo como mobilizador territorial.

É impossível para Fernandinha sair desse momento de pandemia da mesma forma que entrou. Ela destacou a percepção sobre como lidamos com o próximo. “Olhar o outro tá sendo diferente na pandemia”. Apesar de não estar otimista com o cenário pós-pandemia, ela espera que os sentimentos de empatia e paciência permaneçam: “que a gente passe junto e nos cuidando”.

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2020.

 

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