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Exposição “Negras Marés” será inaugurada no Centro de Artes da Maré

Pâmela Carvalho e Julia Bruce

Na próxima terça-feira, 28 de fevereiro, às 19h, a Casa Preta da Maré inaugura a exposição “Negras Marés”, que ficará em cartaz no Centro de Artes da Maré, das 9h às 20h, de segunda a sexta-feira, e de 9h às 12h, aos sábados, até o dia 28 de abril. A exposição parte da premissa que a Maré, assim como o Rio de Janeiro e demais capitais que receberam as vítimas africanas do tráfico transatlântico, entre os séculos XVII e XIX, é um território negro.

A exposição teve curadoria dos coordenadores do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, Marcos Diniz e Pâmela Carvalho, junto à equipe da Casa Preta (Fernanda Viana, Carlos André, Millena Ventura, Tiago Blanc, Rodrigo Almeida, David Alves e Ludmylla Braga) e contará com fotografias de moradores da Maré, cartazes, acrílica sobre tela, ilustração digital, esculturas, instalações artísticas, colagens, bordado sobre tela, tecidos, entre outros tipos de obras.

Entre os artistas, estão:

Abdias do Nascimento
Alexandre Carriço
Antônio Amaro
Arthur Viana
Carlos Marra
Demacê
Derrete
Fagner França
Felipe Bacelar
Gato de Bonsucesso
Guilherme Kid
Kamila Camillo
Luna Bastos
Nlaisa
Pandro Nobã
Rayanne Felix
Renato Cafuzo
Stefany Silva
Vênus
Yaya Ferreira

A exposição está dividida em cinco núcleos, tendo como proposta reunir obras que tocam em temas em comum, criando um percurso pedagógico que pode ser seguido pelos visitantes.

  • África-Brasil: Obras que remontam às conexões entre o continente africano e o Brasil;
  • A Maré Negra: Obras de artistas da Maré que discutem relações raciais;
  • Culturas e Identidades: Obras que toquem em perspectivas culturais e identitárias como música, dança, teatro;
  • Águas: Obras que apresentam ligação direta com as águas, mares, rios, cachoeiras, chuva, como por exemplo o barco que pretendemos trazer da colônia de pescadores como objeto cênico-expositivo;
  • Racialidades, gêneros e vivências LGBTQIA+: Obras de artistas negres LGBTQIA+ que discutem perspectivas de gênero e de sexualidades-afetos.

 

Contexto histórico sobre o tráfico de pessoas durante a escravidão

Entre o fim do século XVIII e meados do século XIX, chegaram às terras do que hoje chamamos de Brasil cerca de um milhão de africanos escravizados. Dentro deste período, a primeira metade do século XIX registrou o fluxo mais intenso do tráfico no Atlântico, onde os africanos representavam cerca de 80% dos habitantes em fase adulta nas fazendas de café e açúcar nos atuais estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Com a urbanização, esta população migrou para diferentes territórios e adulterou uma série de práticas epistemológicas, culturais e sociais, de acordo com o documentário Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás (1998), com direção de Renato Barbieri e pesquisa do historiador historiador Victor Leonardi. Um destes territórios foi a Maré.

 

Mapa das principais rotas do tráfico de escravos/Reprodução

 

 

Segundo o Censo Maré, realizado em 2013, o Conjunto de Favelas tem 62,1% de população negra (preta e parda). “Para além do quantitativo numérico, tanto a Maré (um conjunto de favelas que tem dimensão de cidade) quanto cidades como Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e Recife têm - nas palavras de Azoilda Loretto da Trindade - modos africanos de ver e fazer o mundo. Zó (apelido carinhoso para Azoilda) cria um conceito importantíssimo para a conceituação da exposição: os valores civilizatórios afrobrasileiros. São eles: circularidade, religiosidade, corporeidade, musicalidade, cooperativismo/comunitarismo, ancestralidade, memória, ludicidade, energia vital (axé), oralidade. Estes valores conectam populações negras no continente e na diáspora. E dentro deste conceito entendemos a Maré também.

“A exposição pretende apresentar a Maré enquanto espaço diretamente influenciado pelo fenômeno diaspórico de populações negras”, explica a coordenadora do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, Pâmela Carvalho. Após a abertura da sede da Casa Preta da Maré, parte das obras doadas da exposição migrará para o local onde ficará por mais um mês.

A realização é da Redes da Maré, através da Casa Preta da Maré, com patrocínio da Enauta e Banco BV - pela Lei de incentivo à Cultura do Ministério da Cultura -, do BTG Pactual e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - pela Lei do ISS.

 

Sobre a Casa Preta da Maré

A Casa Preta da Maré surgiu em 2019 com o propósito de criar um espaço de formação teórica-metodológica e política para trabalhar as questões étnico-raciais no conjunto de 16 favelas da Maré, como forma de enfrentar o racismo estrutural que caracteriza a sociedade brasileira. O projeto tem como perspectiva atuar na produção de conhecimento sobre questões relativas à raça e ao racismo na composição da população da Maré. Busca, ainda, pensar ações para esse público específico, com ênfase na questão racial, numa perspectiva de fomentar a incidência em políticas públicas para a população negra da Maré. O equipamento desenvolve ações anualmente para diversos públicos como o Corpo Negro em Movimento, Cine Conceição e o Café Preto, e terá sua inauguração prevista o final do mês de abril.

 

Serviço:
Inauguração da exposição “Negras Marés”: 28/02, às 19h | Entrada franca
Centro de Artes da Maré (CAM): Rua Bittencourt Sampaio, nº 181 - Nova Holanda - CEP: 21044-262

Saiba como chegar no CAM


Funcionamento da exposição:
De segunda a sexta: De 9h às 20h | Sábados: De 9h às 12h
Visitas mediadas: realizar agendamento através do e-mail casapreta@redesdamare.org.br

 

Ficha técnica

Coordenação de Curadoria: Pâmela Carvalho e Millena Ventura

Curadoria colegiada: Pâmela Carvalho, Marcos Diniz, Fernanda Viana, Carlos André Nascimento, Millena Ventura, Rodrigo Almeida, David Alves, Tiago Blanc e Ludmylla Braga

Produção: Rodrigo Almeida 

Logística e Assistência de Produção: Marcos Diniz, Fernanda Viana, Carlos André Nascimento, Millena Ventura, Rodrigo Almeida, David Alves, Tiago Blanc e Ludmylla Braga

Coordenação de pesquisa: Pâmela Carvalho e Millena Ventura

Pesquisa: Pâmela Carvalho, Marcos Diniz, Fernanda Viana, Carlos André Nascimento, Millena Ventura, Rodrigo Almeida, David Alves, Tiago Blanc e Ludmylla Braga

Projeto Expositivo: Ana Altberg

Assistência: João Pedro Pina

Montagem Expositiva: Cesar Jordão, Cosme Rodriguez e Eduardo Diniz.

Comunicação: Redes da Maré

Coordenação de Educação: Millena Ventura e Tiago Blanc

Acervos: Redes da Maré, IPEAFRO e GRES Gato de Bonsucesso

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