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A Maré também é um bairro

Julia Bruce

Há 29 anos, o território da Maré foi reconhecido como mais um bairro na capital carioca, de acordo com a aprovação do projeto de Lei nº 2119 em 19 de janeiro de 1994. Isso significa que ela passaria a ser considerada como uma área “urbanizada”, com infraestrutura e serviços públicos adequados para proporcionar o bem-estar da população local. Apesar desse status, a luta por direitos básicos, como acesso ao saneamento básico, infraestrutura do território e das casas, segurança e o direito de ir e vir, qualidade do ar, entre outros, além de políticas públicas exclusivas para o Conjunto das 16 Favelas da Maré, é um desafio diário desde a formação do território a partir da década de 1940.

 

Segundo o Maré Que Queremos, a Maré viveu um intenso processo de crescimento e ampliação de sua área original. Criado em 2010, o projeto busca articular ações estruturantes a partir da mobilização, do envolvimento e do fortalecimento de agentes atuantes no território da Maré que impactem de modo direto na qualidade de vida dos moradores.

 

Esse processo foi dividido em duas fases: na primeira com a constituição dos núcleos originais de habitação construídos pelos primeiros moradores da região: Timbau (1940), Baixa do Sapateiro (1947), Conjunto Marcílio Dias (1948), Parque Maré (1953), Parque Rubens Vaz (1954); Parque Roquete Pinto (1955), Parque União (1961) e Praia de Ramos (1962); e na segunda fase, com a intervenção do poder público que construiu as seguintes comunidades: Nova Holanda (1962), Conjunto Esperança (1982), Vila do João (1982), Vila do Pinheiro (1983), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas (1989); Nova Maré (1996) e Salsa e Merengue (2000). Entenda mais sobre essa trajetória na nova página Sobre a Maré e os dados de perfil dessa extensa população.

 

Com mais de 140 mil moradores, o bairro Maré é um dos nove bairros mais populosos do município do Rio de Janeiro, segundo o Censo IBGE (2010). E os números só aumentam: o Censo Maré (2019) mostrou que o conjunto de favelas cresceu quatro vezes mais do que o resto do estado nos últimos dez anos e é maior do que 96% dos municípios do Brasil.

 

A Redes da Maré reconhece, nesta data, a força e criatividade dos moradores a criatividade dos moradores que demonstram, cada vez mais, a força da mobilização comunitária na garantia de direitos básicos.

 

Em colaboração, o Maré de Notícias publicou um vídeo em homenagem ao dia 19 de janeiro. Leia na narração na íntegra:

Era lá pela década de 40 que o Morro, batizado de Timbau, acolhia uma das primeiras moradoras da Maré: Orosina. Ela representa muitos moradores que deram início ao conjunto de favelas. Com o tempo vieram mais diversas pessoas, de vários cantos da cidade e do país e novas favelas foram surgindo. Nem tinha terra para tanta gente, então a solução era fincar a madeira no mangue e construir palafitas. A vida era dura, uma luta para todos terem energia elétrica e a água, que era obtida nos bicões, por meio do rola ou da balança. Foram necessárias muitas mobilizações, muitas lideranças e uma Chapa Rosa, para lutar pelo direito à moradia, educação, cultura, saúde e saneamento básico.


Em 1994 foi criado o bairro Maré. Contudo, uma lei pode não trazer tantos avanços como se espera. São mais de 140 mil moradores, quase uma cidade. Mesmo assim, os investimentos surgem lentamente. E geralmente não tem continuidade. Certa vez um jovem chamado Herbert Vianna que estudava na UFRJ, enquanto olhava para a Maré escreveu uma canção, que narrava bem o dilema: A esperança não vem do mar e nem das antenas de TV, a arte de viver na fé, só não se sabe fé em quê. Havia fé sim, na união e capacidade de mobilização. E assim muitas transformações aconteceram, mas ainda há muitos problemas a serem resolvidos. Já são 29 anos de um bairro que é potência. Tem uma população que almeja políticas públicas, que sofre pela desigualdade social e deseja uma segurança pública para todos os cidadãos que contribuem com o crescimento da cidade, do estado e do Brasil. E que segue a lutar por uma Maré que Queremos!

Texto: Hélio Euclides
Edição: Jéssica Pires

 

Foto topo: © Douglas Lopes

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