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Projeto Robótica da Redes da Maré constrói perspectivas para o lugar da mulher na ciência e tecnologia

Julia Bruce

Para reafirmar a promoção da igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e a celebração da presença feminina nas áreas de pesquisa do país, neste mês é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data consolidada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. O eixo Educação, da Redes da Maré, vem incentivando novas oportunidades nas áreas da ciência e tecnologia para jovens mareenses, a partir do projeto Robótica, que inclui as ações Peritech Maré, Garotas Stem e oficinas no projeto Nenhum a Menos.

No final de 2019, a Redes da Maré recebeu a doação de material de robótica, próprio para participação em torneios de relevância no campo. Foi a partir desse momento que nasceu o projeto e, junto ao Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, na Nova Holanda, foi formada uma equipe de sete adolescentes do 1º ano do Ensino Médio com a finalidade de iniciar um projeto de inclusão na área de tecnologia e computação no território. Essa iniciativa possibilitou a ampliação da formação dos estudantes e a inserção desses jovens no mercado de trabalho.

Esse movimento deu origem à criação do projeto Peritech Maré (Periferia e Tecnologia da Maré), com o objetivo de fomentar o protagonismo de estudantes em tecnologias digitais, promovendo habilidades desejadas, como raciocínio lógico da programação de robôs, além de pesquisa científica e criação de soluções inovadoras a problemas identificados no território. Cada equipe é formada por até dez participantes. No primeiro grupo, havia sete estudantes, sendo duas meninas; o de 2020, cinco estudantes, sendo duas meninas; e de 2021, nove estudantes, entre eles, cinco meninas.

O projeto é composto por encontros presenciais e remotos para a elaboração da pesquisa científica, experimentos com construção e programação de robôs, planejamento de ações, troca de experiências dentro da equipe e com outros estudantes interessados, conhecimento dos torneios para inscrição, além de envolvimento das famílias no processo.

 

Primeira participação da equipe da Peritech Maré na First Lego League (FLL), em fevereiro de 2020 na etapa regional. Os estudantes foram premiados na categoria Core Values/Inspiração. Da esquerda para a direita, as meninas da equipe Camille Soares e Judy Kelly.

 

 

Nos primeiros meses do projeto é contemplada uma carga horária de quatro horas de trabalho por semana no contraturno escolar, além de intercâmbio com outras equipes com visitas presenciais e virtuais. Os jovens também participam de atividades de formação humana e científica no campo das ciências e tecnologias com parceiros do projeto, a cada torneio realizado no país e no exterior, como o Torneio Brasil de Robótica e o First Lego League (FLL).

De 2019 a 2021, a aluna Camille Soares, 19, moradora da Nova Holanda, foi aluna do projeto Robótica que a incentivou a participar de diferentes torneios a nível nacional e internacional, assim como Mylena Nascimento, 17, também da Nova Holanda, que atuou no projeto em 2021.

“Conheço a Redes da Maré desde nova por já ter feito alguns cursos, mas o projeto Robótica conheci na Escola João Borges de Moraes, onde eu fiz o Ensino Médio. Nos torneios que participei foram avaliados cinco eixos: Orientação e Pesquisa, Organização e Mérito, Mérito Científico, Tecnologia e Engenharia e o Desafio Prático. Ao participar desses torneios é praticamente impossível você não ter nenhum contato com a construção de robô ou pesquisa. E, por isso, o projeto foi um momento de aprendizado para mim, pois eu nunca tive contato com os equipamentos de lego e nem com programação, muito menos em fazer pesquisas científicas. Se eu não tivesse participado, talvez eu nem conhecesse esse mundo da robótica”, conta.

Camille participou de três torneios desde o primeiro ano do projeto: First Lego League (FLL) em 2019, cujo grupo de robótica ganhou o prêmio de Inspiração. O segundo foi no Torneio Brasil de Robótica em 2020, cuja equipe ganhou em 1º lugar em Organização e Método. Em 2021, o time conseguiu o 1º lugar na categoria de Mérito Científico.

“Os projetos que eu e minha equipe montamos foram três: o primeiro foi um biodigestor que transformava lixo orgânico em gás de cozinha; o segundo foi uma horta que espantava ratos, baratas e bichos peçonhentos e contribuía na adubação dessas plantas; e o terceiro foi uma pesquisa que nos ajudou a entender melhor sobre o trabalho infantil e as suas consequências, em que desenvolvemos um projeto de divulgação de empregos de jovem aprendiz, para assim, diminuir a carga horária que era maior por causar de trabalhos informais. Além disso, fiquei principalmente com a parte de programação, na qual fazia uma rota para que o robô, criado com equipamentos lego, evitasse os obstáculos e concluísse as tarefas”, explica Camille, que hoje tem vontade de se graduar na área de programação e, após a participação no projeto, já se especializou a partir de cursos técnicos.

 

Encontro da Camille Soares com Marina Silva no Dia Internacional da Menina, em outubro de 2020, em convite pelo impacto positivo do Garotas STEM no projeto Robótica.

 

Aos 15 anos, Mylena Nascimento participou do Torneio Brasil de Robótica (2021) e se diz empolgada em começar a trabalhar para que a Peritech Maré venha participar do torneio neste ano. “No ano de 2021, nossa equipe passou da etapa regional e ganhamos o 1º lugar na categoria Mérito Científico na etapa nacional. Hoje, aos 17 anos, compartilha sobre seus planos para o futuro com a mesma motivação de Camille: “No momento estou no Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré e pretendo prestar o vestibular para a faculdade de Engenharia da Computação e Informação, justamente porque a robótica me abriu os olhos para essa área e hoje em dia é o que eu pretendo seguir”.

 

Promoção de uma ciência mais diversificada e representativa de gênero

Para ampliar o conhecimento tecnológico no território e, além disso, envolver mais meninas nessa área, a Redes da Maré inscreveu a equipe Peritech Maré no edital do British Council junto ao Museu do Amanhã para o Programa “Girls in STEM”, em 2020. STEM é uma abreviação para a metodologia de ensino que promove o acesso ao conhecimento científico nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (“Science, Technology, Engineering e Mathematics”). Todas as meninas do Peritech Maré também participaram.

Nesse caso, o programa não ficou restrito somente à equipe de robótica e se multiplicou para mais mulheres jovens da Maré. A equipe foi contemplada pelo edital em 2020 e as ações se estenderam ao longo de 2021. O objetivo é apoiar o papel das mulheres na liderança e as oportunidades para garotas na sociedade civil, STEM e nas artes, promovendo uma ciência mais diversificada e representativa de gênero.

A partir do programa, houve um aumento da participação das meninas na equipe de robótica, além do aumento do interesse das meninas da Maré pela área de tecnologia e computação. O programa voltará a acontecer neste ano.

Judy Faria, que foi da primeira equipe do Peritech Maré e também participou do Garotas STEM, reforça sua experiência ao aprender a realizar trabalhos científicos e todas as normas que os acompanham, na qual sua escrita e vocabulário evoluíram, deixando-a mais confiante no período do vestibular. O projeto Robótica deu a ela um contato mais direto com a tecnologia, tornando um pensamento em algo mais palpável, onde ela pôde colocar, de fato, seus conhecimentos em prática pela primeira vez.

“Ao sair do projeto e do C.E.P. João Borges de Moraes, eu consegui uma bolsa de estudos para fazer Engenharia da Computação na Centro Universitário Eniac, em São Paulo, pelo Torneio Brasil de Robótica, porém, não dei continuidade, pois consegui uma vaga para Ciências da Computação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Atualmente, trabalho na área de tecnologia em Quality Assurance (QA)”. 

 

 

 

 

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