return
Conheça oito mulheres que têm trabalhado até 18 horas por dia para tentar minimizar os impactos da Covid-19 no Rio de Janeiro

Presidente da Fiocruz, juiza, médica intensivista, líderes comunitárias, enfermeira, pesquisadora e diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas estão na linha de frente desta guerra
Marcia Disitzer com colaboração de Lívia Breves

Elas têm formações, idades e trajetórias de vida distintas. Mas todas estão imbuídas da mesma incumbência: encontrar armas capazes de duelar com o novo coronavírus e seus efeitos nefastos. Adriana Ramos de Mello, Alicia Araújo de Oliveira, Carla Castilho, Eliana Souza e Silva, Magda Gomes, Nísia Trindade Lima, Patricia Rocco e Valdiléa Veloso são oito das grandes mulheres na linha de frente desta batalha. Conheça suas histórias.

Magda Gomes, coordenadora do Rocinha Resiste, 26 anos

Das 8h à meia-noite. Desde que a Covid-19 chegou ao Rio, Madga Gomes, de 26 anos, uma das quatro coordenadoras do coletivo A Rocinha Resiste, está com uma rotina intensa em busca de ajudar as famílias da sua comunidade. A primeira ação foi de reconhecimento de campo. Ela distribuiu um formulário para descobrir qual era a maior necessidade das pessoas. “Pensei que listariam álcool gel. Mas era água que pediam. Nessa hora dá para entender o que são privilégios”, diz. Rapidamente, ela se movimentou e, no dia seguinte, a Cedae subiu a favela. Por meio de campanhas nas redes sociais, o coletivo também tenta arrecadar o fundo necessário para comprar e distribuir cestas básicas, água e produtos de limpeza para 350 famílias vulneráveis durante três meses, além de fazer ações de conscientização. Isso é só um pouco do que Magda, que está se formando em Engenharia Civil no IBMEC, faz. “A palavra que resume meu sentimento nesse momento é preocupação. É tudo pessimista, mas precisamos encontrar alguma maneira menos dolorosa de passar por isso.”
Ela admite que o maior desafio está sendo garantir uma logística segura para colocar o plano de ação em prática. “Fator de risco é a combinação de palavras que mais falamos atualmente. Se temos medo? Claro. Mas, assim como me exponho, vejo que muitas pessoas da favela que não recebem condições necessárias para ficarem em casa precisam sair para poder sobreviver.” 
Nome forte entre a nova geração de ativistas, Magda nasceu na Rocinha, mas morou no interior até os 17 anos. Quando retornou, começou a atuar no terceiro setor. “Foi Marielle Franco quem me ajudou a me entender enquanto mulher preta política.”

Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, 62

“Estou numa missão”, afirma a presidente da Fundação Osvaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, de 62 anos. Ela é a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da instituição que completa 120 anos em maio. “O que aumenta muito a responsabilidade e a autocobrança. Na Ciência, somos minoria em postos mais altos.” Devido à pandemia, a carioca, doutora em Sociologia, está se relacionando a distância com os filhos, o neto e o namorado. “Nos falamos ao telefone”, diz.
Desde o início da crise sanitária, Nísia trabalha 15 horas por dia; de segunda a sexta-feira, acorda às 6h30, pratica 30 minutos de ioga e segue para Manguinhos, onde está localizada a fundação, que abriga o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, o Laboratório de Virologia Molecular, o de Vírus Respiratórios e do Sarampo, ligado ao Instituto Osvaldo Cruz, entre outras unidades técnico-científicas. Lá, comanda operações, monitora pesquisas, participa de reuniões virtuais e faz articulações com o Ministério da Saúde. “É um momento só comparável à gripe espanhola. Porém, em 1918, o Brasil era um país rural, uma república oligárquica”, reflete Nísia, que fala com calma admirável para o momento. “Situações como essa exigem engajamento. Ficar em casa reforça o coletivo. Evidencia-se também a nossa interdependência: a minha saúde é a saúde do outro”. 
Cabe a ela reger uma série de ações, executadas por um exército de gestores, pesquisadores, médicos, cientistas e enfermeiros. Uma delas é o ensaio clínico multicêntrico da OMS no Brasil, chamado Solidariedade. A Fiocruz também desenvolveu um teste molecular para identificar o vírus. Já a construção, no ex-campo de futebol da fundação, de um Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19, uma expansão do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), com 200 leitos para pacientes graves, exige empenho hercúleo. “É um esforço de guerra”.
Ao voltar para a casa, Nísia tem o hábito de se reunir com amigos por meio de um grupo no WhatsApp em que compartilha textos e músicas. “É uma espécie de sarau. Também estou lendo a biografia da Fernanda Montenegro”, acrescenta. E, assim como todos os brasileiros, traça planos para o fim da tempestade. “Vou encontrar filhos e netinho e caminhar na Praia de Copacabana”.

Adriana Ramos de Mello, juíza, 49 anos

“Esta pandemia precisa ter um olhar de gênero.” A frase da juíza carioca Adriana Ramos de Mello, de 49 anos, titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar  Contra a Mulher, resume o foco do seu trabalho durante a quarentena. De acordo com dados divulgados no último dia 2 pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, o  governo computou um acréscimo de 9% no volume de denúncias recebidas pelo Disque 180 (a comparação foi feita com o mesmo período do ano passado). A estimativa da Justiça Estadual do Rio é de que os casos de violência doméstica tenham aumentado, a partir do confinamento, 50%. Por conta disso, foi  criado um plantão extraordinário na capital. “Existe um maior número de buscas por medidas protetivas de urgência”, diz Adriana.
A magistrada está se adaptando à nova rotina. Casada com o juiz Caetano Costa, ela tem um casal de filhos, da primeira união, e duas enteadas Adriana passou a trabalhar de casa. Presencial, apenas o plantão judiciário, no esquema de rodízio. A juíza também integra um grupo chamado Fórum Violência Doméstica da Escola da Magistratura do  Estado do Rio de Janeiro, conectado via WhatsApp. Nele, estão uma delegada, uma policial militar, duas psicólogas, uma desembargadora, uma procuradora da Justiça, uma advogada e uma defensora pública; juntas, elas procuram soluções para quem não pode esperar. “Encaminhamos para um abrigo uma mulher e o filho de 10 anos. O companheiro, além de abusos físicos, passou a usar a ameaça da  contaminação”, relata. “Esse agressor ia para rua, não realizava a higiene adequada ao voltar para casa e fazia questão de se aproximar dos dois. Isso tudo associado ao uso de álcool”. Segundo a juíza, pedidos de afastamento de filhos usuários de drogas por parte de mães idosas também estão mais frequentes. “Assim como o uso da faca.”
O quadro pode ser ainda mais grave. “Estou preocupada com a mulher que não consegue acessar o sistema e sofre violência calada. O coronavírus é uma barreira externa e real”, analisa. Uma das alternativas estudadas pela juíza, para se  somar às já existentes, como o atendimento on-line da polícia civil, é seguir o exemplo da França, que criou senha para a vítima pedir ajuda na farmácia. “A “A violência contra a mulher e a Covid-19 atingem todas as classes sociais, religiões e países do mundo inteiro.” 

Patrícia Rocco, pesquisadora, 56 anos

A primeira coisa que a pesquisadora carioca Patrícia Rocco, de 56 anos, faz ao acordar é verificar as mensagens que vêm da Itália e da Espanha.“Estou escrevendo diversos artigos. A partir da experiência deles, organizo os protocolos que podem ser feitos no Brasil”. Chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar da UFRJ, membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências, a médica vem esbanjando fôlego. Há um mês trabalha 18 horas por dia em pesquisas que têm um só objetivo: desenvolver terapias de combate ao coronavírus. De casa, ela coordena diversas investigações científicas. “Se eu for para a bancada, neste momento, algo vai falhar.”
Uma das pesquisas é ao lado do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações: Patrícia foi chamada para participar da Rede Vírus. “É formada por especialistas de diferentes áreas. Fui convidada para organizar os estudos clínicos que estão sendo realizados no Brasil. No momento estou trabalhando no projeto de hidroxicloroquina e azitromicina, baseado num ensaio francês”, explica. “Na França, eles observaram uma resposta boa em pacientes que utilizaram esse tratamento.”
Com a equipe do Laboratório de Investigação Pulmonar, ela esmiúça o uso de derivados de células-tronco. “As vesículas extracelulares podem conter a inflamação grave, que causa a morte”, resume. “Porém, não são fáceis de serem fabricadas. No país, apenas um hospital na Bahia possui a centrífuga capaz de produzi-las”, lamenta. Fora isso, a médica também faz parte do Comitê de Insuficiência Respiratória e Ventilação Mecânica da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. “As normas estão mudando diariamente. Toda semana, redijo os novos procedimentos que médicos de todo o Brasil vão aplicar. Se errar, os pacientes morrem”.
Casada há 31 anos com um médico e professor da UFRJ, Patrícia tem duas filhas, uma advogada e outra engenheira. Nesse turbilhão de acontecimentos, sente falta da rotina, de que tanto ama. Mas acredita que a pandemia pode provocar reflexões e mudanças. “Em 2018, meu laboratório teve mais suporte do exterior do que do Brasil. Agora, a Ciência está sendo olhada de forma diferente”.

Eliana Souza Silva, diretora da Rede das Marés, 57 anos

No dia 2 de março, Eliana Souza Silva, de 57 anos, diretora da Redes da Maré, desembarcava em Londres para participar do Festival Mulheres do Mundo (Women of the World, WOW). Encontrou pessoas usando máscaras, ruas vazias, notícias assustadoras. “Fiquei tensa, pensando como seria no Brasil”, lembra. Quando retornou ao Rio, nove dias depois, já sentiu o clima diferente no aeroporto. Bastaram 48 horas para a OMS declarar pandemia. “Fui indicada a fazer as duas semanas de isolamento por ter estado na Europa.” Da sala de seu apartamento no Flamengo (Eliana saiu da Maré há 12 anos), ela se debruçou sobre um plano para ajudar a comunidade em que nasceu e cresceu. “Desde então, faço reunião o dia todo. Hoje (a entrevista aconteceu no dia 27 de março) fui à Maré pela primeira vez. Seguindo todas as regras de prevenção da OMS, vou continuar indo. Preciso ir”, afirma.
O foco de Eliana é contribuir para a qualidade de vida das 140 mil pessoas que vivem nas 16 favelas que compõem o complexo. “Fizemos um diagnóstico e chegamos à conclusão de que, para começar, precisamos atingir, durante três meses, seis mil famílias, quase 14 mil pessoas, que são grupo de risco. Montamos, então, uma campanha para arrecadar recursos e comprar cestas básicas e material de higiene para casa e de prevenção”, conta. Para concluir esse plano, ela precisa conseguir o valor que pague 18 mil cestas, além de recursos para as 60 pessoas envolvidas na operação. “Temos quatro grupos: de captação, de mobilização, de prestação de contas e de logística e entregas.” Outra medida foi a de comprar todos os itens no comércio local.  E ainda há uma terceira ação, que irá distribuir quentinhas preparadas pelas cozinheiras do bufê Maré dos Sabores, que envolve 60 cozinheiras.
Eliana nasceu na Paraíba, aos 7 anos se mudou para o Rio e morou na Nova Holanda por quase quatro décadas. “O que guia o meu trabalho é tentar superar essa imagem negativa da Maré. Favela e periferia deveriam ter os mesmos direitos de outras áreas. Busco desconstruir as visões preconceituosas que muitos têm de quem é favelado”, reflete. “Tudo que sei e sou tem a ver com o que aprendi na favela”, conclui ela, formada em Letras pela UFRJ e doutora em Serviço Social pela PUC-Rio.

Alicia Araújo de Oliveira, médica intensivista, 45 anos

A médica hepatologista e intensivista carioca Alicia Araújo Oliveira, de 45 anos, lista a vestimenta de trabalho em tempos de coronavírus. “Primeiramente, colocamos um pijama descartável; depois, um sapato especial. Por cima do pijama, vai um capote. Também usamos gorro, máscara N95, óculos de proteção, uma outra máscara sobre a N95, escudo facial e luvas.” É com esse traje, que parece ter sido extraído de um filme de ficção científica, que ela atende pacientes acometidos pela Covid-19. Plantonista do CTI do America Medical City, que incorpora os hospitais Samaritano e Vitória, na Barra (bairro com o maior número de casos no Rio), ela já os recebe em estado grave. “Alguns chegam entubados; outros, eu entubo. Todos estão correndo risco”, conta. Durante o seu plantão, não houve mortes. Porém, essa realidade já bateu à porta do CTI em que trabalha. “A sensação é de uma tristeza profunda.”
Formada pela UFRJ, Alicia sempre foi idealista. Na década de 2000, exerceu a profissão por três anos em Angola e no Congo, a convite de uma multinacional de petróleo. Na África, teve que lidar com o vírus Marburg e com a febre hemorrágica. Mas nada se compara ao que está vivendo agora. “É uma doença muito agressiva que estamos conhecendo em tempo real.” Em paralelo à dor de acompanhar o sofrimento dos pacientes e de ver colegas médicos contraindo o vírus — “vários confirmaram diagnóstico” —, a preocupação com familiares e amigos não dá trégua. “Não existe uma maneira fácil de evitar a contaminação”, observa. Viúva do primeiro marido e separada do segundo, ela mandou os três filhos, Maria Eduarda, de 21 anos, Igor, de 15, e Daniel, de 6, para a casa do irmão em Petrópolis. “Além disso, dispensei minha funcionária, que tem mãe idosa. Estou sozinha. Mais da metade dos meus amigos médicos está longe da família. ”
No pouco tempo que sobra das horas trabalhadas por dia — ela também é médica do Hospital de Ipanema e do Fundão —, Alicia tenta meditar e praticar exercícios com pesinhos. Dedica-se, diariamente, à limpeza cuidadosa do que vem da rua. “Higienizo cada item que está dentro da minha bolsa, até o chaveiro.” Para a médica existe a possibilidade de a sociedade evoluir quando o novo coronavírus for, finalmente, dominado. “Espero que o egoísmo diminua e que as pessoas percebam que não se alcança o bem-estar por meios materiais e, sim, através da saúde.”

Valdiléa Veloso, diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, 58 anos

Diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, unidade da Fiocruz voltada para a pesquisa clínica, a infectologista carioca Valdiléa Veloso, de 58 anos, não recua diante de desafios, independentemente das dificuldades encontradas no meio do caminho. “Sempre segui em frente”. A vida profissional da médica se confunde com a pessoal. Em 2017, casou-se com a pesquisadora Beatriz Grinsztejn, chefe do laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Evandro Chagas. “Estamos juntas há 20 anos. Foi muito difícil, mas temos orgulho de não termos abdicado da busca da nossa felicidade”, analisa. “Também caminhamos nas nossas carreiras ultrapassando barreiras. Só recentemente, graças à nova onda do feminismo, passei a identificar certas atitudes como machistas. Hoje, quando discordo de um homem, e ele responde ‘deixa eu te explicar...’, digo: ‘Você está falando isso por que sou mulher.’”
A mesma determinação que tem diante de questões de foro íntimo ela emprega na direção do Evandro Chagas, em que chegou recém-formada, em 1988, e onde exerce o terceiro mandato. “Minha especialidade é a Aids. Mas, ao contrário do HIV, o novo coronavírus tem a questão comunitária. É uma pandemia assustadora”, avalia. É da responsabilidade do instituto coordenar o ensaio clínico Solidariedade, da Organização Mundial de Saúde (OMS), cujo objetivo é investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a Covid-19. “Envolve 18 centros de pesquisa em 12 estados do Brasil. É uma grande operação, um estudo que está sendo feito em pacientes de vários países ao mesmo tempo”, explica. Outra atribuição é a construção, feita em parceria com o Ministério da Saúde, do Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid- 19. “É um compromisso da Fiocruz em dar respostas à pandemia e salvar vidas.” Também foi necessário montar uma força-tarefa para atender quem sofre de outras doenças. “Esses pacientes continuam a serem acompanhados”, ressalta. Sob o seu comando, trabalham cerca de 900 profissionais.
Quando chega a noite, Valdiléa encontra em casa o suporte de que precisa: a companhia de Beatriz. “Neste momento não tenho assistido a séries, filmes, nada. A minha válvula de escape é poder conversar com ela.”

Carla Castilho, enfermeira, 43 anos

Desde o início de março, a enfermeira carioca Carla Castilho, de 43 anos, segue um ritual metódico ao voltar para casa, em Campo Grande. Da garagem, avisa aos filhos, Beatriz, de 17 anos, e Diego, de 15, que está chegando. Eles, por sua vez, vão direto para seus quartos. E lá permanecem, de portas fechadas, até ela ir dormir. “Fiz a opção de isolamento social dentro da minha casa. Enquanto circulo pelo apartamento, eles ficam trancados”, explica Carla, que trabalha na enfermagem da Casa de Saúde São José. “A saudade aperta, mas preferi esta opção a ter que dormir no trabalho. Coibi o contato físico, não os vejo, mas realizamos chamadas de vídeo. Também os ouço dentro de casa, o que tranquiliza o meu coração.”
O coração da enfermeira anda mesmo sobressaltado. Dia sim, dia não, ela sai às 5h30 e dirige o carro em direção à clínica do Humaitá. A cada manhã, o protocolo para lidar com as dezenas de casos suspeitos de coronavírus é atualizado. “A São José formou o Comitê Covid-19. O foco é o conhecimento científico”, explica Carla, que trabalha ao lado de mais seis enfermeiros e seis técnicos de enfermagem. “Um ajuda o outro”.
A profissional se divide entre o acolhimento dos pacientes com classificação de risco, o salão da emergência e o acompanhamento na ambulância. Também está presente em exames decisivos para o diagnóstico, como a tomografia. “Recentemente, encaminhamos um homem de meia-idade e percebi que ele tremia muito. Perguntei se estava sentindo frio. Ele me respondeu: ‘Não, estou com muito medo’”, conta. “Nestes momentos, a gente se coloca no lugar do outro. Costumo dizer aos pacientes que eles não estão sozinhos.” Os mais graves são internados. Apesar de não continuar com eles nesta etapa, ela é informada dos resultados dos testes. “O medo existe. O que nos tranquiliza é trabalharmos dentro dos protocolos”, diz ela em referência às normas de segurança.Carla se considera otimista e diz que a fé a tem ajudado nesta fase. “Sou espírita, rezo quando entro no carro, quando os pacientes são avaliados, antes de dormir.” Está ciente de que, finda a pandemia, nada será como antes. “A vida terá outra dimensão, o abraço, o beijo. Sonho em voltar a fazer o básico dos básicos: assistir a TV sentada no sofá ao lado dos meus filhos”.

 

 

* Texto de Marcia Disitzer com colaboração de Lívia Breves
Matéria publicada no jornal O Globo, 12 de abril de 2020

Stay tuned! Sign up for our newsletter