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O que pensamos sobre o retorno às aulas nas redes públicas de educação no Rio de Janeiro

Desde o início do isolamento social, no dia 15/03/2020, as aulas presenciais das redes públicas de ensino foram suspensas como medida necessária para evitar a disseminação do coronavírus. Desde então, as unidades escolares buscam encontrar caminhos, através de ferramentas digitais, para manter o contato com os alunos, mitigando os efeitos negativos da pandemia no processo de escolarização de seus alunos. Um dos grandes entraves encontrados foi a falta de acesso à internet e disponibilidade de equipamentos como celular, tablet ou computador pela população da Maré.

Segundo o Censo Maré (2013), 36,7% da população da Maré tinham acesso à internet e 42,4% possuíam computador em casa. Dessa forma, a oferta de atividades pedagógicas remotas pelas escolas da Maré não atinge a todos, não assegurando o direito à educação dessa população.

Com o passar dos meses e com um cenário mais otimista em relação ao controle da pandemia, principalmente pela perspectiva de uma vacina, surge a necessidade de discussão sobre o retorno das atividades presenciais.

A Redes da Maré, que sempre defendeu e desenvolveu iniciativas no campo da educação visando contribuir para a ampliação da escolaridade da população das 16 favelas da Maré, se posiciona contra o retorno imediato das aulas, por entender que o mesmo deva ser feito de forma segura, seguindo as orientações das autoridades sanitárias e que, infelizmente, as escolas ainda não apresentam condições de cumprir.

Vale destacar, também, o número de pessoas que teriam que ser mobilizadas para o retorno das atividades presenciais nas 50 escolas públicas existentes na região. Dados do Censo Escolar 2019 registram 19.923 matrículas, 1.199 docentes, 55 diretores, 124 profissionais de preparação de refeições (merendeiras, cozinheiras e auxiliares de cozinha), 43 coordenadores ou supervisores pedagógicos, 19 auxiliares de secretaria, dentre outros profissionais. É preciso considerar que a maioria dos profissionais das escolas não é morador da Maré, o que traria, com mobilidade diária dos profissionais, impacto para a disseminação do vírus, não só para a região, como para outras áreas da cidade.

Ressaltamos que 80% dos estudantes têm até 14 anos de idade. Esses dados trazem outra preocupação que é a manifestação da COVID-19 em crianças e adolescentes. A maioria dos infectados é assintomática o que favorece a disseminação, a grande maioria tem convívio com pessoas mais velhas, como avós e avôs em casa. Além disso, tem sido registrado casos de manifestação severa dessa doença nessa população, como a nova síndrome inflamatória multissistêmica que exige protocolos de tratamento diferenciado, inclusive, com medicamento pouco disponíveis no Brasil,

Diante do exposto e considerando que a pandemia não está controlada, consideramos ser prematura a decisão da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro de retornar às atividades presenciais, para alunos do 3º ano do Ensino Médio, no próximo dia 19.

Nosso entendimento é que as secretarias de educação deveriam estar, nesse momento, pensando possibilidades de mitigação das perdas, ocorridas em 2020, através de um planejamento das atividades para 2021, preparando as escolas para uma retomada gradual, e, dessa maneira, orientarem as condições sanitárias ou de criação de alternativas para que alunos que não têm acesso ao ensino remoto possam ter o conteúdo, de alguma forma. Deixamos claro que, dentro da nossa missão, estamos prontos para contribuir com o que for possível para o planejamento de um retorno responsável, no momento em que as condições de saúde assim permitirem. 

O posicionamento da Redes da Maré, desde o início da pandemia, quando em março lançou a campanha "Maré diz NÃO ao Coronavírus", composta por várias frentes de atuação, é de reduzir os impactos da pandemia para a população da Maré.

Seguimos defendendo o direito à educação e o direito à vida!

Redes da Maré

 

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