Em 3 de dezembro de 2023, a sociedade brasileira perdeu um de seus maiores pensadores, Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo. Ele partiu deste plano aos 63 anos, em São João do Piauí, terra que o alimentava em suas reflexões e onde liderava um importante movimento quilombola.
Nêgo Bispo nasceu no Quilombo Saco-Curtume (PI), em 1959. Desde cedo, se interessou pela história e pela cultura de seu povo. Em 1985, fundou o Centro de Educação e Cultura do Quilombo Saco-Curtume, uma instituição que promove a formação cultural e política de quilombolas.
Bispo também foi um importante ativista político. Lutou pela defesa dos direitos dos quilombolas, pelo reconhecimento da identidade quilombola e pela promoção da igualdade racial. Ele foi um dos articuladores da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), uma organização essencial na luta de quilombolas de todo o Brasil.
Antônio Bispo também foi um escritor prolífico. Publicou diversos livros e artigos sobre história, cultura, política e educação quilombola. Seus trabalhos são importantes referências para o movimento negro e para a luta antirracista. Destacam-se “A terra dá, a terra quer” e "Colonização, Quilombo: modos e significações".
Bispo tinha uma forte relação com a Maré. Em agosto de 2018 veio ao Conjunto de Favelas para atividades formativas e rodas de conversas regadas por um bom café da tarde com o Núcleo de Memórias e Identidades dos Moradores da Maré. Também na Maré, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Mestre das Periferias, organizado pelo Instituto Maria e João Aleixo, contexto no qual fez o seguinte poema (posteriormente musicado por Lazzo Matumbi) para o povo da Maré:
“Nós, caminhando pelos penhascos,
atingimos o equilíbrio das planícies.
Nós, nadando contra as marés,
atingimos a força dos mares.
Nós, edificando nos lamaçais,
atingimos a firmeza dos lajeiros.
Nós, habitando nos rincões,
atingimos a proximidade da redondeza.
Nós somos o começo, o meio e o começo.
Existiremos sempre,
sorrindo nas tristezas
para festejar a vinda das alegrias.
Nossas trajetórias nos movem,
Nossa ancestralidade nos guia.”
Foto: Douglas Lopes
A morte de Nêgo Bispo é uma perda irreparável para o Brasil. Ele era um intelectual brilhante, um ativista comprometido e um líder inspirador. Seu legado continuará a inspirar gerações de intelectuais, ativistas e educadores pela igualdade racial. Como ele mesmo nos ensinou, nossa história não é composta por “início, meio e fim”. Somos retorno. Somos continuidade. Somos começo, meio e começo.
Até breve, Nêgo Bispo.
Redes da Maré
Rio de Janeiro, 05 de dezembro de 2023
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