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Ecoclima viabiliza sonhos de jovens mareenses acerca de uma sustentabilidade mais efetiva no Conjunto de Favelas da Maré

Julia Bruce

Com parceria da Petrobras e do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EA-UFRJ), a Redes da Maré inaugura o projeto Ecoclima - Núcleo de Economia Circular e Clima - para atuar por quatro favelas da Maré (Nova Holanda, Rubens Vaz, Parque Maré e Parque União) durante dois anos. 20 jovens mareenses entre 15 e 28 anos estão trabalhando com o propósito de amenizar os impactos das mudanças climáticas, assim como das ações humanas diretas no território, a partir de formações, produção de conteúdos pedagógicos, rodas de conversas com estudantes de ensino médio, diagnóstico ambiental com recomendações, além da implementação de quatro tecnologias ambientais.

 

A iniciativa já está impactando a vida dos 20 jovens, que começaram a mudar alguns hábitos em suas rotinas e que estão compartilhando estas mudanças com pessoas próximas, como suas famílias e seus amigos. “Eu tinha um péssimo hábito de desperdiçar muita água com chuveiro e torneira e agora estou economizando mais. Não jogo mais lixo na rua e incentivo quem está comigo a também não fazer isso”, explica Natan Soares, 15, aluno do primeiro ano da Escola Municipal Bahia, que tem como desejo para o território em que ele nasceu e cresceu a mobilização de pessoas para terem hábitos mais saudáveis. “A Redes [da Maré] contribui, através de sua equipe com entendimento sobre questões ambientais, para falar com a comunidade sobre o assunto e, assim, conseguir que a gente mude e repense para termos uma rotina mais sustentável”.

 

“A Petrobras acredita que os trabalhos realizados com os jovens permitem estimular o protagonismo deste importante grupo da sociedade, que tem grande vocação para disseminar informações importantes sobre o cuidado com as pessoas e com o meio ambiente. Esses mesmos jovens serão os líderes das gerações futuras. E esse é exatamente o trabalho do projeto Ecoclima, que traz subsídios para que os jovens mareenses compreendam os impactos das mudanças climáticas no seu dia a dia. A prática vem mostrando que é muito oportuno que esses jovens sejam os atores principais na implementação de soluções para minimizar esses impactos e em pensar formas de combater o racismo ambiental. O calor mais intenso em suas casas, o esgoto que retorna para a sua porta com as enchentes cada vez mais recorrentes, tudo isso tem conexão com as mudanças do clima. Todos esses eventos afetam o bem-estar e a saúde das pessoas. Uma das preocupações do Programa Petrobras Socioambiental é exatamente com essa necessidade de somarmos energia para promovermos a justiça climática e, por isso, apoiamos e parabenizamos o projeto Ecoclima”, afirma Luísa Krettli, Gestora de Projetos Ambientais do Programa Petrobras Socioambiental.

 

Atividade de formação sobre resíduos orgânicos e Horta Freática. Foto: Patrick Marinho

 

 

Natan e os outros 19 jovens estão recebendo, desde maio, formações para serem Agentes Climáticos. Essa formação ocorre a partir de atividades teóricas lecionadas por professores da UFRJ, com ensinos sobre diversas temáticas da área, como conceitos de ecologia aplicados ao cotidiano e em contexto de favelas, educação ambiental, fontes de energias renováveis e não-renováveis, resíduos sólidos urbanos e reciclagem, dentre outros. Além dessa abordagem teórica, a formação dos Agentes Climáticos engloba ações práticas com a LUPPA Rio - Liga pela Universalização da Participação em Políticas Públicas Ambientais, um projeto de extensão de estudantes de diversos cursos da UFRJ, sobretudo de Engenharia Ambiental, e a Compostae, formada por ex-alunos da UFRJ, que realiza serviços de compostagem de resíduos orgânicos urbanos e de educação ambiental. A coordenadora da Liga e professora adjunta da Escola Politécnica da UFRJ, Monica Pertel, informa que o LUPPA possui quatro ramos de atuação - político, social, educação ambiental e comunicação - e que o Ecoclima vem proporcionando uma formação mais humana dos alunos a partir dessas áreas. “Os jovens têm muita esperança de realizar mudanças, isso os move em direção às ações com a comunidade. Eles querem, ao menos, tentar mudar alguma coisa. Vejo isso nos meus alunos do projeto, conseguimos ver isso nos jovens da Maré e, mesmo que aos poucos, vamos fazendo nossa parte. Observar a realidade é fundamental para uma formação mais humana dos nossos alunos”, reflete.

 

Atividade de formação da Ecoclima sobre compostagem com os jovens da LUPPA. Foto: Patrick Marinho

 

E esse desejo de mudança se mostrou presente no perfil de cada um dos Agentes Climáticos do Ecoclima. Muitos nunca chegaram a atuar ou estudar diretamente sobre o meio ambiente, mas a curiosidade e o interesse por abrir novos caminhos na trajetória de cada um é o que mais os desperta. “Eu me interessei porque gosto de aprender coisas novas e está sendo minha primeira experiência na área. Meu sonho é que um dia a Maré seja um lugar de paz e conforto para todos nós que fazemos parte dela! Acredito que podemos alcançar se um dia todos colaborassem com ações e atitudes que cuidem e ajudem nossa região. O projeto contribui com todo o conhecimento que passa para nós, basta praticar”, afirma Stefany Conceição, 18, moradora da Vila dos Pinheiros e atualmente estuda no 2º ano do Ensino Médio da Escola Municipal Bahia. Quem compartilha do mesmo sentimento é a Giovana Rodrigues, 16, moradora da mesma favela e diz que o Ecoclima tem contribuído para alcançar seu sonho para a Maré pois busca “promover a conscientização sobre a importância de investir em comunidades para que seus moradores possam ter acesso a melhores condições de vida, educação e oportunidades. Os professores não falam apenas sobre o meio ambiente, eles nos levam para lugares que fazem com que a gente contribua e pratique!”.

 

Atividade do ciclo sobre resíduos em que os jovens tiveram a oportunidade de conhecer o Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (IMA-UFRJ) para uma oficina prática de reciclagem de eletroeletrônicos. Eles aprenderam sobre os reusos e formas corretas de descartar esse material.

 

 

Todas essas formações e atividades que compõem a programação do projeto foram criadas com o objetivo de haver trocas de experiências e conhecimentos com os alunos, adequando o conteúdo com a realidade deles. Lucas Pereira, 20, morador de Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, está no quarto período de Engenharia Ambiental da UFRJ e é um dos alunos que compõe o âmbito político da LUPPA e acompanha os espaços de tomadas de decisão, como audiências públicas, fóruns, comitês, e traz ativistas e políticos para entrevistas e debates. Lucas está participando desde o início das formações aos agentes do Ecoclima e essa proximidade e troca de jovens para jovens mostra que eles têm em comum a vontade de fortalecer o território com práticas sustentáveis e conscientização ambiental para os moradores. “O tema principal [da primeira formação] era compostagem, e passamos o porquê dessa prática ser tão importante para nossa sociedade na necessidade de reduzir resíduos, aterros sanitários, lixões e emissão de CO2, indo de encontro à geração de composto e biofertilizante e com a possibilidade gerar renda com isso. Eles curtiram bastante e colocaram a mão na massa! Além de termos feito atividades práticas, ainda realizamos visitas na Compostae, onde os Agentes puderam conhecer e participar um pouco dos processos. As dúvidas mais pertinentes dos Agentes eram sobre a diferença entre os tipos de compostagem, como eram feitos e tratados os produtos dessa atividade e se eles podiam fazer em casa tranquilamente. Todas as dúvidas foram sanadas na atividade de campo”, conta o estudante.

 

Agentes Climáticos do Ecoclima fazem visita ao Compostae, na Tijuca, onde participaram da produção do sistema de tratamento de resíduos. Foto: Patrick Marinho

 

Acompanhe as atualizações sobre o Ecoclima na página do projeto

 

Sobre a implantação de tecnologias ambientais na Maré

A grande quantidade de resíduos sólidos gerados, a escassez hídrica, o lixo flutuante, a precariedade das comunidades de pescadores e a degradação do manguezal são alguns dos impactos socioambientais vividos em todo o território da Maré, e que precisam ser enfrentados e solucionados para garantir a saúde e o bem-estar da população local. A partir desse cenário, o projeto também está planejando a construção de quatro tecnologias ambientais para auxiliar na conservação do meio ambiente e na redução de impactos das mudanças climáticas, trazendo funcionalidades para o dia a dia das pessoas e formas de consumo menos poluentes e sustentáveis: compostagem, telhado verde, replantio e recuperação de mangue e biodigestor com Wetland. Entenda mais sobre cada uma na página do projeto.

A professora Monica Pertel coordena o projeto para a implementação das composteiras, que serão feitas junto com a comunidade para os moradores cuidarem em conjunto, criarem essa mentalidade sustentável, além de mostrar como o processo é simples. “As composteiras serão feitas com auxílios dos jovens da Maré. Um diagnóstico está programado ainda para este ano, o qual irá auxiliar no entendimento do território. O CocôZap já é nosso parceiro [que ajudará no levantamento de dados e mapeamento do território e a conversa com eles será bem técnica e focada em melhores alternativas, visto que precisamos da opinião de quem mora na comunidade. Estamos apenas de passagem, mas a tecnologia precisa ficar e as melhorias precisam ser permanentes”. Ela também reforça que os indicadores que acompanhará são técnicos e sociais: “os técnicos são os de monitoramento da compostagem e os sociais são a diminuição dos resíduos lançados em vazadouros, a quantidade de composto gerado e utilizado pela comunidade”, descreve. 

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