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Diretora da Redes da Maré, Andreia Martins, participou de conversa com Malala Yousafzai

Julia Bruce

O painel “O papel da filantropia no avanço da equidade racial e de gênero na educação brasileira: uma conversa com Malala Yousafzai e integrantes da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil” reuniu mulheres de organizações brasileiras em Sumaré, São Paulo, no dia 26 de maio. A diretora da Redes da Maré, Andreia Martins, é uma das 11 ativistas no Brasil que integram essa rede. Participaram também da conversa Benilda Brito, coordenadora do projeto Mandacaru Malala, e Suelaine Carneiro, coordenadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, mediada pela jornalista Maju Coutinho.

A mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, realizou uma visita de uma semana ao Brasil, em maio, para se encontrar com integrantes da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil (Rede Malala) e meninas dos projetos implementados pela organizações parceiras da rede. Em diversas visitas por Brasília, Pernambuco (Olinda e Recife), e São Paulo, Malala Yousafzai pediu que o governo brasileiro tenha comprometimento com o novo Plano Nacional de Educação (PNE) e investimentos robustos na educação do país: “As vozes das meninas devem estar no centro das discussões que definem o futuro delas. É preciso garantir a participação de ativistas e de meninas na formulação de políticas educacionais e a colaboração entre o governo e a sociedade civil para mudar o futuro das meninas. Eu espero que o governo brasileiro avance na implementação de políticas progressistas e leis que promovam a equidade de gênero e de raça, incluindo a total implementação da história e cultura afro-brasileira e indígena nos currículos escolares”, disse a mais jovem Nobel da Paz. 

 

Foto: Fundo Malala

 

No encontro organizado pela Imaginable Futures, em São Paulo, Andréia Martins contou que fizeram uma programação que propiciou momentos de troca entre os convidados e o Fundo Malala. “Os convidados eram representantes de fundações e apoiadores de projetos sociais, principalmente, de São Paulo. Antes do início do painel, nós três ativistas (eu, Benilda e Suelaine) tivemos 20 minutos para conversar com Malala em um espaço reservado. Nesse momento, pudemos trocar um pouco com ela sobre o contexto político do Brasil e nossas demandas para garantia do direito à educação de meninas: educação antirrracista, laica e focada nas questões de gênero”, comentou. 

Entre os assuntos debatidos no encontro, Andréia pôde trazer um panorama nacional acerca dos obstáculos para o direito à educação de meninas, principalmente, depois de 2 anos sem aulas presenciais, por conta da pandemia de covid-19, trazendo o contexto das áreas de favelas e periferias das grandes capitais brasileiras onde a violência urbana impacta diretamente o funcionamento das unidades escolares. “Desde 2016, os estudantes da Maré já perderam, em média, 18 dias de aula por ano. O que significa,

considerando que o ano letivo tem 200 dias, quase 10% a menos de aulas por ano. No caso do Rio de Janeiro, é exemplo claro de falta de articulação entre governo estadual, que realiza operações policiais em horário escolar, descumprindo, inclusive, uma determinação do Supremo Tribunal Federal, que proíbe que essas operações sejam feitas em perímetros escolares”, expôs a diretora da Redes, que ressaltou a surpresa de Malala ao falar sobre os dias perdidos sem aula na Maré.

 

Toda Menina na Escola

No final de 2019, a Redes da Maré estabeleceu uma parceria com o Fundo Malala para que fosse garantida educação para as meninas e adolescentes entre 11 e 17 anos da Maré. A partir da afinidade entre as duas instituições, nasceu o projeto Toda Menina na Escola. Com a pandemia e a consequente necessidade de suspensão das atividades pedagógicas presenciais nas escolas, o marco inicial do projeto foi uma pesquisa no território para saber mais sobre os impactos da covid-19 nos estudos das meninas: “Educação de meninas e covid-19 no Conjunto de Favelas da Maré”, publicada em março de 2021. 

A pesquisa apontou que 3 em cada 4 alunas não tinham computador em casa para acompanhar o ensino remoto e 34,7% não tinham acesso à internet. Esses foram alguns dos motivos que dificultaram a aprendizagem e provocaram a evasão escolar naquele período, sendo mais um exemplo de obstáculo para o direito à educação de meninas no país compartilhado com Malala. De acordo com dados da pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) para o UNICEF, “Educação brasileira em 2022 – a voz de adolescentes”, em setembro do ano passado, dois milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos ainda não tinham completado a educação básica. Os motivos mais recorrentes para a evasão foram trabalho infantil e dificuldades de aprendizagem, mas aparecem também falta de transporte escolar, racismo, gravidez e necessidade de cuidar de algum familiar. O projeto Toda Menina na Escola está sendo finalizado em junho deste ano.

Outros assuntos discutidos no painel destacaram a insuficiência do ensino da história e cultura afro-brasileiras, o impacto da pandemia de covid-19 na educação de meninas negras, além de como o setor filantrópico pode apoiar a equidade racial e de gênero no Brasil. Andréia complementou que os desafios são inúmeros, “mas o caminho só pode ser de mobilização popular e de sensibilização do legislativo e dos gestores públicos, para que cumpram o que foi determinado, no sentido de criar estratégias efetivas de permanência de estudantes nas escolas brasileiras que passa por questões de clima escolar, valorização do profissional de educação, reconhecimento de que política pública deve considerar as especificidades e as dinâmicas dos territórios. Conversas como essa aqui podem nos trazer alento e energia para continuarmos na defesa de uma educação antirracista, e pautada em questões de gênero”.

 

Foto: Fundo Malala

 

Alunas de projetos da Redes da Maré assistiram Malala no Maracanãzinho

Na mesma semana, três alunas, uma educadora e a coordenadora do projeto Escreva Seu Futuro, além da equipe da Biblioteca Lima Barreto e mais seis leitoras tiveram o privilégio de participar da abertura da 5ª edição da LER – O Festival do Leitor, no evento "Uma conversa com Malala", realizado no Maracanãzinho, no dia 22 de maio. A prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, teve um encontro exclusivo com educadores e integrantes de projetos sociais da cidade do Rio de Janeiro mediado também pela jornalista Maju Coutinho. A Redes da Maré foi uma das 30 instituições contempladas para estarem na conversa ao vivo.

 

Fotos: Douglas Lopes

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