No dia 21 de janeiro é celebrada a luta contra a intolerância religiosa, instituído em 26 de dezembro de 2007 pela Lei Federal nº 11.635, após a morte de Gildásia dos Santos e Santos, conhecida como “Mãe Gilda”, que teve sua casa e terreiro invadidos por um grupo de outra religião. A data é de grande importância para a sociedade brasileira, em especial para os espaços e pessoas que praticam as religiões de matrizes africanas, comumente perseguidas por conta do racismo religioso.
A intolerância religiosa consiste na violação do direito fundamental de liberdade de crença e exercício de culto religioso, assegurado na legislação brasileira. Esta prática resulta no apagamento cultural e histórico de determinadas religiões e tradições.
Como forma de enfrentar o racismo estrutural, que está na raiz da sociedade brasileira, a Redes da Maré vem empenhando esforços diversos, como a criação, em 2020, da Casa Preta da Maré, que vem promovendo espaços de formação teórica-metodológica e política para trabalhar as questões étnico-raciais no Conjunto de 16 Favelas da Maré.
Visando também combater a intolerância religiosa através do conhecimento e preservação das práticas de religiões de matriz africana, a Casa promove atividades abertas ao público, como a edição da roda de conversa sobre racismo religioso no dia de São Cosme e Damião, em setembro de 2022. A roda contou com a presença de tecedores e moradores da Maré praticantes de diversas religiões, proporcionando uma rica troca de conhecimentos e experiências, combatendo a desinformação e a intolerância.
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Dados do Censo da Maré
A expressão religiosa é um dos elementos de destaque e com bastante diversidade no território da Maré. De acordo com os dados do Censo Maré (2019), uma publicação da Redes da Maré, há católicos (49.555), evangélicos e protestantes (22.293), espíritas (786), testemunhas de jeová (813), afro-brasileira ou africana (563), oriental (63), islâmica (14), judaica (6), entre outras crenças presentes.
Um dado curioso é que o percentual de pessoas maiores de 15 anos que se declaram sem religião na Maré é de 29,1% e superior ao visto na cidade do Rio de Janeiro, o qual, de acordo com o Censo 2010 do IBGE, corresponde a 13,6% dos cariocas (e 14,0% se somados às pessoas com Declaração de Múltipla religiosidade ou com Religiosidade não determinada).
Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
“Práticas de intolerância e de racismo religioso causam o apagamento de culturas religiosas, desconsiderando as contribuições que cada uma teve ao longo da história”, nos conta o educador da Casa Preta da Maré, Tiago Blanc, que participou da Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, no Centro Cultural da Justiça Federal, entre 18 a 21 de janeiro. Blanc acompanhou a exposição de dados alarmantes, como o aumento de casos do gênero e a constatação de que são, em média, são recebidos três denúncias de intolerância religiosa por dia.
Dados como esse compõem o II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe, lançado no evento e que demonstra uma série de artigos, dados e análises sobre o tema. A publicação foi organizada pelo Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (CEAP) e pelo Observatório de Liberdades Religiosas (OLIR), com apoio da UNESCO. O relatório, feito a partir do trabalho de diversas instituições e bases de dados oficiais sobre a temática, demonstra um crescimento do discurso de ódio em situações de intolerância religiosa e aponta o quanto o número de casos no Brasil aumentou nos últimos anos. Só entre janeiro e junho de 2022 foram feitas 545 denúncias de intolerância religiosa no país, de acordo com a Globo News.
Foto topo: © Patrick Marinho
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