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Não basta condenar o racismo, é preciso ser antirracista e lutar pela sua superação

Neste dia da consciência negra é preciso refletir sobre a situação do povo negro e da permanência do racismo estrutural no Brasil. Os avanços, como a recente constatação de que os negros (pretos e pardos) são maioria entre os estudantes das universidades públicas, ainda é muito pouco, no sentido dos enormes desafios a serem enfrentados para que o país, de fato, considere essa população a partir dos mesmos parâmetros que considera os brancos.

Quando olhamos para a universidade pública, por exemplo, e constatamos que em determinados cursos, considerados de elite, os negros ainda são minoria, isso dá a medida do quão longo ainda é o caminho para que superemos a desigualdade entre negros e brancos no Brasil. Segundo o IDADOS, esses cursos são: Direito (43,8%), Medicina (39,9%), Odontologia (38,7%) e Engenharia (40%). E por que isso explica, dentre as muitas razões do processo histórico que ancora o racismo estrutural, o que vivemos? São esses, exatamente, os cursos mais caros – o custo dos livros e outros materiais são altos, o que exige uma renda e um investimento considerável das famílias – e que demandam grande dedicação, quase exclusiva, dos estudantes.

Ora, quando observamos a situação econômica precária da maioria do povo negro, fica claro o quanto difícil é para um aluno ou aluna negra manter-se em determinados cursos. Isso, sem falar do ambiente universitário que, sem dúvida, se caracteriza em muitos aspectos, pelo preconceito e racismo dentro das salas de aula e nas estruturas acadêmicas, o que dificulta, além do acesso no primeiro momento, também a permanência dos alunos negros.

Quando observamos dados como os da Segurança Pública, fica patente a desigualdade e o componente racial como diferencial entre brancos e negros. Dados oficiais sobre homicídios, por exemplo, apresentam a tragédia que se abate sobre os negros. Entre eles a taxa de homicídios é de 98,5 por cada cem mil habitantes. Para os brancos a mesma taxa é de 34 por cem mil habitantes, ou seja, a chance de uma pessoa negra ser assassinada é bem maior do que uma pessoa branca. Esses dados referem-se à faixa etária entre 15 e 29 anos. Nesse sentido, precisamos olhar para o fato de estarmos vivendo uma perda sem precedente da juventude negra brasileira.

No fundo, o que todos esses dados dramaticamente refletem é o que na sociedade brasileira pode ser considerado como “racismo estrutural”. Isso significa que o racismo não é uma manifestação individual, apenas praticada por pessoas ignorantes e atrasadas, ou que o racismo seja manifestação de instituições que ainda carregam o atraso e o preconceito em suas ações. Nas palavras de autores e autoras negros como Silvio de Almeida e Sueli Carneiro, o racismo faz parte das estruturas econômicas, culturais e sociais do nosso país. Ele dá forma e direciona as relações individuais e sociais e, por isso, oferece ou nega oportunidades de acordo com a cor da pele. O racismo não é um “acidente infeliz”, mas uma prática e uma crença que faz parte do cotidiano e da “normalidade” do funcionamento das estruturas sociais no Brasil e no mundo.

Por conta disso, é preciso denunciar o racismo. Ao contrário do que muitos pensam e defendem, não vivemos numa “democracia racial” – e os dados acima comprovam esse fato. Por isso, não basta sermos contra o racismo, temos o dever e a obrigação de sermos todos, sem exceção, antirracistas e trabalharmos pela incidência em políticas públicas que garantam o acesso das populações negras aos direitos básicos e à inserção e tratamento em uma sociedade equânime.

O dia 20 de novembro é para lembrar a todos nós que a luta de Zumbi, de Dandara e tantos outros não pode morrer. Porque é a luta contra o racismo, contra a violência e contra a exploração do povo negro. Ela permanece viva e precisa ser enfrentada todos os dias e por todos nós.

Certamente esse é um desafio que instituições como a Redes da Maré, que atua num território popular de maioria negra, como o conjunto de 16 favelas da Maré, deve assumir como uma de suas obrigações e missões mais importantes. Por isso, iniciativas como a criação da Casa Preta da Maré e do grupo de Griôs da Maré são fundamentais para a construção de ações que desafiem a instituição, a cada um de nós e a sociedade no enfretamento e na desnaturalização do racismo. Mais do que denunciar o racismo é preciso ser antirracista e lutar pela sua superação.

Tecedoras e tecedores da Redes da Maré

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