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Nos revolta a morte de mais uma criança!

Entre 2014 e 2019, mais de 9 mil crianças foram feridas ou mortas na guerra da Síria, segundo dados do UNICEF. Infelizmente, elas são as maiores vítimas da violência armada e dos deslocamentos forçados quando suas famílias são obrigadas a fugir de seus países em guerra. O resultado desse fato é que todos os anos milhares de crianças têm sua infância brutalmente interrompida e suas famílias sofrem o luto por mortes tão precoces e sem sentido. Porém, não é só em tempo de guerra que as crianças são atingidas pela violência armada. No Brasil, ainda de acordo com o UNICEF, 32 crianças e adolescentes são assassinados todos os dias, sobretudo, em nossas grandes cidades.



Desse modo, embora não esteja em guerra, o Brasil mata mais crianças e adolescentes do que países como a Síria, que enfrenta uma guerra civil há mais de uma década. A tragédia brasileira é maior nas periferias e favelas. É lá que crianças são baleadas e mortas em plena luz do dia e no meio de ruas movimentadas e cheias de pessoas.

Foi o que aconteceu mais uma vez na Maré, no último dia 09/10/2020, com a morte do menino Leônidas Augusto da Silva, um menino negro de 12 anos de idade. Leônidas chegava a um supermercado localizado na Avenida Brasil, uma das vias rodoviárias mais importantes da cidade, com sua avó, quando foi atingido por um disparo de arma de fogo. 

Segundo testemunhas, os disparos foram realizados por ocupantes de um carro que atirou em direção a uma patrulha da polícia militar e em outro veículo que também participou do confronto. Leônidas foi levado a um hospital, depois de ficar caído no chão por 40 minutos, segundo relato da família de Leônidas à imprensa, mas não resistiu. 

Diante da morte de Leônidas precisamos todos nos posicionar contra a recorrência de mortes brutais como essa. Precisamos, mais do que tudo, nos perguntar porque mortes como a do Leônidas continuam acontecendo, principalmente em territórios como a Maré. Que condições permitem e favorecem a repetição de mortes de crianças por arma de fogo?  

Não temos dúvidas que nossa enorme e vergonhosa desigualdade socioeconômica e o racismo - a maioria dos mortos é constituída por pessoas negras - se traduzem na falta de melhores condições de vida e segurança para a população que vive nas favelas. É do conhecimento de todos que a omissão do Estado diante dos grupos sociais mais vulneráveis da população contribui para que crianças continuem sendo vítimas da violência armada.

Historicamente, o Estado, o mesmo que deveria garantir direitos iguais para todos, negligenciou a questão da segurança pública nas favelas e nunca discutiu uma política que efetivamente preservasse vidas. Pelo contrário, as ações das forças de segurança acabam agravando o quadro de violência, pois são pautadas pelo enfrentamento e pelo confronto com grupos criminosos – cada vez mais armados - o que apenas gera mais violência. 

Novamente, os moradores da Maré lamentam a morte de um de seus meninos. No entanto, é preciso que esse lamento seja o de toda a cidade e que, ao mesmo tempo, ele se converta em indignação e cobrança. Esse crime não pode ficar impune e mais uma vez virar “apenas” estatística. Os criminosos precisam ser identificados e julgados.

A violência contra nossas crianças precisa ser interrompida urgentemente!

Nos solidarizamos com a família de Leônidas e com todas as famílias vítimas de violência na Maré,  na cidade, no país e no mundo.

 Foto: Douglas Lopes

 

Redes da Maré

 

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