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Racismo mata!

Em seu discurso conhecido como “I have a dream” (Eu tive um sonho), feito em 1963, Martin Luther King Jr, um dos maiores defensores dos direitos humanos e líder negro nos EUA, denunciou a violência que o racismo gera. Cinco anos depois, ele fez outro discurso histórico conhecido como “I've Been to the Mountain top" (Eu estive no topo da Montanha). Neste, advertia sobre os tempos difíceis que se seguiram na luta contra o racismo. No dia seguinte, 04 de abril de 1968, Martin Luther King Jr foi assassinado por um atirador branco. Os tempos difíceis previstos pelo Dr. King, continuam sobre nós. Cinquenta e dois anos depois de sua morte, seguimos assistindo aos assassinatos de pessoas negras no mundo e no Brasil, provocados pelo racismo.

No último dia 19/11, véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos de idade, foi espancado até a morte por dois seguranças de um supermercado, em Porto Alegre. Caso semelhante ao do negro americano George Floyd, sufocado por um policial branco, e do jovem negro Pedro Henrique Gonzaga, também morto por um segurança na porta de outro supermercado, em 2019. Em todos os casos, os assassinatos foram motivados por racismo. 

Apesar de muitos negarem a existência do racismo, como o presidente e o vice-presidente da República, a realidade mostra que ele não somente existe, como mata. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por exemplo, informam que 74% das vítimas de violência letal (assassinatos) são negras. Ser negro no Brasil significa ter três vezes mais chances de ser assassinado do que uma pessoa branca.

Isso ocorre porque o racismo é antes de tudo estrutural, ou seja, é a partir das concepções racistas que o cotidiano e a vida das pessoas na sociedade são definidas. Assim, pessoas negras têm seus direitos desrespeitados, têm menos acesso a postos de trabalho de prestígio, renda menor e menos escolaridade quando comparadas às pessoas brancas. O racismo está na linguagem, no tratamento entre as pessoas, nos julgamentos morais, na justiça e no mercado de trabalho.

Pesquisa feita pela instituição IEADE (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), publicada pelo jornal Folha de São Paulo (21/11/20), constata que as crianças negras têm desempenho escolar menor do que crianças brancas, o que equivaleria a um atraso de dois anos de escolaridade. E isso ocorre não porque as crianças negras aprendam menos, mas porque elas têm menos oportunidades educacionais, como por exemplo acesso a creche e apoio pedagógico. São as crianças negras também as mais discriminadas e que sofrem o racismo no interior das escolas quando são julgadas não apenas pelo desempenho acadêmico, mas por sua cor de pele. É o que Silvio Almeida, intelectual negro brasileiro, chama de “racismo institucional”.

A ativista e filósofa negra Ângela Davis, diz que “em uma sociedade racista, não basta ser racista, é preciso ser antirracista”. Essa é uma mensagem poderosa e que chama todos nós, incluindo as pessoas brancas, a lutar contra o racismo no Brasil. E como afirma Conceição Evaristo, uma de nossas maiores escritoras e intelectuais negras: “a questão racial não é para o negro resolver”, essa é uma questão da sociedade.

Nesse sentido, não podemos aceitar mais uma morte como a de João Alberto, morto na porta de um supermercado por ser negro. É preciso impedir que mais pessoas negras sofram, diariamente, a brutalidade e a violência racial. Pessoas que moram nas periferias e favelas e que tem suas vidas postas em risco diariamente seja pela ação ou omissão do Estado como é o caso dos moradores da Maré.

Temos de estar atentos! Devemos cobrar do Estado a criação de políticas públicas antirracistas abrangentes e eficazes. Precisamos cobrar do mercado e das instituições da sociedade civil a adoção imediata de práticas contra o racismo institucional. Como indivíduos, precisamos nos libertar de nosso racismo de todos os dias.

Só com a eliminação do racismo, o Brasil poderá se tornar uma nação verdadeiramente justa e igual para todos os brasileiros. Sem isso, não se pode pensar em uma vida boa para todos. O racismo corrói e destrói todas as perspectivas de um futuro melhor.

Por isso, a Redes da Maré se coloca ao lado das lutas antirracistas e se solidariza com todas as pessoas negras que sofrem com a violência racial.

Vidas Negras Importam!

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