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A importância dos serviços básicos de saúde diante da pandemia do coronavírus

A Redes de Desenvolvimento da Maré atua há mais de mais de duas décadas no esforço de contribuir para a melhoria das condições de vida dos habitantes da Maré, que hoje somam 140 mil moradores, distribuídos em 16 favelas. Atuamos a partir de agendas consideradas estruturantes que possam, de fato, influenciar para que políticas públicas se efetivem. É nesse sentido que nos colocamos frente às questões de saúde que hoje impactam na vida da cidade e, em especial, dos moradores da Maré.

Estamos vivendo um momento único na história da humanidade no que diz respeito ao impacto na saúde da população e da necessidade de reorganização social por conta da pandemia do COVID-19. Nesse momento, fica evidente a importância do Sistema Único de Saúde, seus profissionais e seus diferentes níveis de atenção à saúde.

O Ministro da Saúde, em pronunciamento no dia 20.03.2020, afirmou que é possível que o Sistema de Saúde entre em colapso, por conta do aumento da demanda, no próximo mês. Para evitar ao máximo essa situação, o governo anunciou algumas medidas para a criação de novos leitos, mas também determinações para evitar a transmissão, com a redução da circulação de pessoas e contato. 

Quando pensamos em prevenção, as Unidades de Atenção Básica à Saúde têm um papel fundamental. São esses equipamentos, considerados porta de entrada para o cuidado em saúde, que têm o contato cotidiano com a população e que, por isso, podem atuar concretamente na circulação de informações e no cuidado. O que vemos hoje, no município do Rio de Janeiro, é um cenário de precarização e de desinvestimento por parte do Estado, sobretudo, nos serviços de atenção básica. Em 2017, a cidade contava com mais de 70% de cobertura de unidades básicas de saúde, porém, desde então, tais serviços estão experimentando sucessivos cortes. Ao longo de 2019, as equipes de saúde da família tiveram muitos atrasos salariais, além de demissões e faltas de insumos básicos para o funcionamento adequado, culminando no quadro atual, no qual o município dispõe de pouco mais de 50% de cobertura da Atenção Básica à Saúde. 

Nos últimos anos, a Redes da Maré tem acompanhado os desmontes da saúde em nível municipal, a partir do olhar e atuação nas regiões. Nesse sentido, nos unimos ao conjunto de denúncias de profissionais e moradores sobre a falta de recursos humanos e físicos nas Unidades de Atenção Básica à Saúde. A atenção básica, presente nas clínicas da família, nos centros municipais e no Consultório na Rua (que atendem à população em situação de rua) é de extrema importância para conter a propagação do vírus e poderia, na atual crise, ser, de fato, um ponto de apoio importante para as populações das favelas e periferias no Rio de Janeiro. São as Unidades de Atenção Básica à Saúde que estão nos territórios que são a referência para grande parte da população e que podem orientar em relação ao cuidado em saúde, prevenção e garantia de atenção nos primeiros sintomas. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são também equipamentos importantes nesse período, pois muitas pessoas poderão sofrer as consequências dessa crise apresentando quadros de agravamento da saúde mental, com necessidade de apoio e cuidado.

A maioria dos serviços citados está submetida ao sucateamento e, no momento em que poderiam estar servindo como ordenadores do cuidado e da prevenção do contágio pelo COVID-19 nas favelas da Maré encontram-se equipes incompletas, profissionais sobrecarregados e adoecidos, sem Equipamentos de Proteção Individuais adequados, entre outras dificuldades que comprometem o potencial desses serviços. 

Por isso, a Redes da Maré vem, por meio desta nota, chamar atenção, mais uma vez, para a importância dos serviços de Atenção Básica à Saúde, do investimento do Estado na garantia de condições adequadas de trabalho para os profissionais e dos recursos necessários para a produção de cuidado e construção de campanhas de prevenção. 

Precisamos de uma política de saúde que atenda às reais necessidades das moradoras e moradores da Maré e de outras favelas e periferias. Precisamos de um atendimento contínuo, informativo e permanente envolvendo diferentes profissionais que possam fortalecer a lógica de um atendimento de prevenção e promoção em saúde. Assim, nos juntamos aos profissionais da Atenção Básica à Saúde no sentido de exigir que o poder público tome medidas que possam garantir o atendimento, com qualidade, dos usuários desses dos equipamentos fundamentais, como já mencionado, para o combate à disseminação do coronavírus entre a população das favelas e periferias. Vale ressaltar que a situação atual já atinge, de forma mais direta, determinados segmentos sociais no que se refere a demandas de cuidados e acesso aos serviços.

Que tenha chegado a hora de o governo fazer a sua parte. 

Tecedoras e tecedores da Redes da Maré

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