PROJETO

Os dois primeiros anos de pandemia exigiram novos investimentos e o resgate de antigos compromissos no campo da educação. No entanto, essa não foi uma realidade na Maré e em outros territórios periféricos. A partir das experiências da campanha Maré diz NÃO ao coronavírus e da pesquisa Educação de meninas e COVID-19 no Conjunto de Favelas da Maré, realizada pela Redes da Maré em parceria com o Fundo Malala em 2020, surgiu a necessidade de identificar os impactos da pandemia causada pela covid-19 na educação de alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, em seus familiares e professores.



A pesquisa, que contou com a parceria do Instituto Unibanco, reuniu 18 escolas públicas do Conjunto das 16 Favelas da Maré - estaduais e municipais -, incluindo estabelecimentos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e uma de Ensino Técnico.

A equipe da Redes da Maré saiu em campo para entender quais eram, de fato, os desafios da comunidade escolar - nos 20 meses de 2020 e 2021 - em que as atividades pedagógicas sofreram tantas conturbações: suspensão de aulas presenciais, ensino remoto, híbrido e reabertura das escolas. 

 

 

 

 


No primeiro momento, foram aplicadas 89 entrevistas com gestores municipais e estaduais, diretores, coordenadores pedagógicos, professores, além de responsáveis e estudantes de todas as escolas públicas da Maré. Em seguida, foram aplicados mais de 830 questionários para os mesmos grupos de 13 escolas. Veja os resultados aqui, após o lançamento!

VEJA A PESQUISA COMPLETA (PDF)


 

ALUNOS

 


Entre os motivos apontados pelos estudantes em relação à desmotivação, estão a dificuldade de adaptação ao ensino remoto (35%), problemas de aprendizagem (28%), dificuldade de se organizar (20%) ou estudar (18%). 16% dos estudantes contaram que não compreenderam o que precisavam fazer para seguir com os estudos. As dificuldades também foram de natureza emocional, como desmotivação (21%) e tristeza (9%), além de problemas com a própria saúde (9%).

"Eu não consegui, eu não estudei. Não vou ser falso, fingir que eu fui um ótimo aluno. Eu estou boiando no 7º ano. Não vou mentir para a senhora, eu realmente não estudei."

Aluno do 7º ano do EF

“Eu completei o 9º ano, passei, e era para eu ter me matriculado. Mas como [teve] essa pandemia, não consegui. Fechou tudo e ficou muito difícil. Então, fiquei um ano sem estudar. Só por conta própria, pesquisando, para não perder, entendeu, mas matriculado em escola não estava.”

Ex-aluno

“Por não ter a presença do professor, fica mais difícil, então a gente tem que se esforçar mais para conseguir entender as matérias e não perder, continuar no foco.”

Aluno do 1º ano do EM

ATIVIDADES ESCOLARES

 


Apesar de 390 alunos (62%) informarem que realizaram atividades escolares durante a pandemia, e que possuem celular com internet, o acesso não bastou para que sentissem que aprenderam o suficiente, tendo em vista que 74% deles afirmam ter aprendido pouco ou nada. O dado aponta a importância do papel da escola e do professor, da interação no processo de aprendizagem.

“Aqui na minha casa o meu estudo remoto foi só pelo WhatsApp mesmo. [...] Eu não tive acesso a nenhum desses negócios da escola, não, porque eu não entendo muito de internet. Para a minha facilidade, é mais o WhatsApp, mesmo”.

Aluna do EJA

“O aplicativo [da rede estadual] é muito difícil, nem eu consegui entender, nem ela. Não tem comunicação nenhuma, porque só mandam entrar no aplicativo e não tem como entrar no aplicativo.”

Mãe de aluna do 9º ano do EF

PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO









Entre os fatores que contribuíram para a redução da motivação para o trabalho, segundo os relatos, estão problemas de saúde física e mental, incertezas quanto à segurança sanitária da retomada das aulas presenciais, dificuldades no uso de tecnologias do ensino remoto e frustração por não produzirem os resultados esperados ou por acharem que não recebem o devido reconhecimento.



"O professor está extremamente sobrecarregado, porque atende o aluno às 7 horas da manhã e às 22 horas da noite, que é quando o pai chega e pode tirar dúvidas. O professor atende o aluno no sábado, porque o pai trabalha de segunda a sexta. Fico muito preocupada com a saúde mental e física do meu professor.”

Diretora escolar

“Eu não conseguia ter uma relação direta com os alunos. Eu montava as atividades, preparava a aula, filmava e a ponte era o WhatsApp. Eu tinha o grupo dos pais, passava as atividades para o grupo, e eles repassavam essas atividades para os alunos, porque os alunos não tinham celular. Muitas vezes esse celular era do responsável que estava trabalhando.”

Professor

PAIS e/ou RESPONSÁVEIS



 



“Não entende o conteúdo”, “O estudante não solicita ajuda”, “Não tem tempo” e “Porque não sabe ler”, foram alguns dos motivos relatados por eles.



"É estressante esse negócio de WhatsApp. Por exemplo, minha filha está no 9º ano, eu tenho até a 4ª série, como que eu vou ensinar a ela uma coisa que eu não estudei?"

Mãe de aluna do 9º ano do EF

“Tem responsáveis que não sabem ler, que não sabem escrever. Eu tenho responsáveis quase cegos, que o grau de visão é muito baixo. Então, a gente pensou no tamanho da fonte das letras das atividades, no formato do arquivo. Às vezes, tem um arquivo que, se você amplia, perde resolução. A gente teve que pensar em tudo isso.”

Diretor escolar

BUSCA ATIVA

Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, a frente de Busca Ativa do projeto Impacto de Vida, coordenado pela Redes da Maré, tem como maior objetivo incluir a criança que esteja fora da escola ou em situação de evasão. A iniciativa começou em janeiro de 2021, com atuação nas 16 favelas da Maré, a partir de demandas repassadas pelas instituições de ensino. São sete articuladores que realizam visitas domiciliares para entender o que ocorre, inserir a criança na escola e depois acompanhar.

 

De acordo com dados do projeto, desde março de 2021 até o fechamento desta pesquisa, o serviço de busca ativa já havia identificado 983 adolescentes e crianças que tinham abandonado os estudos. Os números vêm de listas fornecidas pelas escolas públicas da Maré, mas é importante lembrar que com a equipe em campo foram encontrados mais estudantes distantes desses bancos escolares.

Os motivos mais presentes para a não adesão às atividades remotas oferecidas foram: falta ou dificuldade de acesso à internet, falta de dispositivo móvel, dificuldade de acessar ou realizar as atividades, família em situação de pobreza, desinteresse pelos estudos e falta de vaga em escola próxima à residência.

Também foi relatado pelos profissionais da educação que, por meio da busca das famílias pela cesta básica, os profissionais da educação puderam localizar alunos em risco de evasão, atualizar registros, fazer busca ativa e aumentar o nível de engajamento, ou seja, dos laços entre responsáveis, escola e alunos.

Expediente

Texto:
Andréia Martins
Andréia Cidade 
Monizza Rizzini

Edição:
Demétrio Weber
Adriana Pavlova

Projeto gráfico e diagramação:
Juliana Barbosa

Revisão:
Adriana Pavlova
Eliana Sousa Silva
Luiz Assumpção

Produção editorial:
Julia Bruce

 

Equipe da pesquisa

Coordenação da pesquisa:
Andréia Martins

Pesquisadoras:
Andréia Cidade
Juliana Leite

Supervisão de campo:
Alessandra Pinheiro

Assistente de campo:
Alessandra Prado

Equipe de pesquisadoras de campo:
Aline Ádria, Cláudia Martins, Edvania Ferreira, Elza Sousa, Maria Daiane de Araújo, Nívia Claudia Katica e Vanessa Garcia  

Tratamento e tabulação de dados:
Bianca Cambiaghi
Pamela Matos

 

 

Esta é uma publicação do Eixo Educação da Redes da Maré e do Núcleo de Pesquisas e Monitoramento de Projetos - Nupem - em parceria com o Instituto Unibanco, como parte do esforço de produzir conhecimento sobre o contexto educacional nas 16 favelas da Maré.


NOTÍCIAS


Fotos do Lançamento da Pesquisa

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